quinta-feira, 23 de abril de 2015

Ouro Branco: O Retorno

O tema transgênicos é muito polêmico na sociedade e na comunidade científica. Mas quais os benefícios reais que esses organismos trazem à nossa realidade no Piauí? Qual o papel deles na ciência e na economia piauiense? Que tal uma historinha para responder essas pergunta? Essa é a história dos transgênicos e do Ouro Branco piauiense.



Há 20 anos, o sudeste do Piauí era conhecido por ser referência regional da produção de algodão. O lendário Grupo Coelho, instalado em Picos, era uma referência no Nordeste brasileiro. Era um sonho dourado de prosperidade nessa terra. Dourado não, branco! O algodão era tudo o que os moradores precisavam para serem felizes, ou quase tudo. Mas como dizem os mais sábios, nem tudo o que reluz é ouro, e nem todo algodão é riqueza. A cultura do algodão enfrentou grandes dificuldades nos anos 80, entre elas a praga do bicudo, responsável por sérios prejuízos aos agricultores. E continuando com mais um ditado: tudo que é ruim pode piorar, afinal, houve incentivo para a compra de algodão importado, provocando o declínio da indústria têxtil nacional.




Essas dificuldades resultaram em queda substancial da produção no Nordeste do Brasil e também no Piauí, em função da baixa adoção de tecnologias que impossibilitava a convivência adequada com a praga do bicudo. Em outras palavras, a galera de Picos não conseguia competir com o algodão de São Paulo e do Paraná. Parecia o fim da história do algodão nesse Estado.Usando uma célebre frase de Roberto Bolaños: "Oh, e agora, quem poderá nos defender?" Os transgênicos!



Os produtores piauienses não contavam com a astúcia da ciência! Ou nem tanto assim, há um debate acalorado sobre os reais benefícios (e malefícios) de usar transgênicos. Mas esse é um assunto para os próximos capítulos do Bioquimicotransgenia. Hoje, vamos nos prender a essa épica história do algodão no Piauí. E o fato é que ele está de volta! Duas décadas depois da praga do bicudo ter dizimado as plantações em Picos, o algodão reviveu no Piauí. A diferença é que as grandes plantações saíram da região do Semiárido e foram para os Cerrados, especialmente em Uruçuí e Santa Filomena, onde apresentam uma produtividade de encher os olhos: mais de 3 mil quilos por hectare para o algodão em caroço, e de mais de 1,1 mil quilos por hectare para o algodão em pluma.Ou seja, o algodão transgênico venceu a praga do bicudo. 



E esse é um dos benefícios dos transgênicos no nosso estado. A EMBRAPA Meio Norte é uma das grandes responsáveis pelas pesquisas envolvendo algodão transgênico. Ela está recomendando para o plantio da safra 2014-2015, em todo o País, as cultivares de algodão herbáceo BRS 368RF, BRS 369RF, BRS 370RF e BRS 371RF, todas transgênicas. Elas foram desenvolvidas pela Embrapa Algodão, com sede em Campina Grande, na Paraíba, em parceria com a Embrapa Meio-Norte, em Teresina, no Piauí.

Mas esse não é a única cultura transgênica no Piauí. A soja tem sido amplamente estudada para obtenção de melhor produtividade. Aí a discussão é mais pesada, afinal envolve nutrição humana. A Universidade Federal do Piauí, através do renomado BioTec, é um dos pioneiros nesse tipo de estudo, referência no Piauí e em todo o Cerrado brasileiro. Esses estudos são coordenados em Parnaíba pela pesquisadora Andrea Coelho.

E essa é a emocionante história de como os transgênicos salvaram a produção de algodão no Piauí, e trouxeram de volta o Ouro Brando para o cerrado do estado. E isso é tudo, pessoal! Um grande abraço e até a próxima!






REFERÊNCIAS

INCA - disponível em http://www.icna.org.br/noticia/algodao-transgenico-deve-crescer-34-na-safra-20132014.  Acessado em 23 de abril de 2015

CERRADOS DO PIAUÍ - disponível em http://www.cerradosdopiaui.com.br/?sec=algodao. Acessado em 23 de abril de 2015

EMBRAPA - disponível em https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/1895642/mais-cultivares-de-algodao-chegam-ao-mercado. Acessado em 23 de abril de 2015.

GOVERNO DO ESTADO DO PIAUÍ - disponível em http://www.ccom.pi.gov.br/materia_especial.php?id=36765. Acessado em 23 de abril de 2015

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - disponível em http://www.uespi.br/site/?p=52782. Acessado em 23 de abril de 2015

9 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Bom ver "nosso" Piauí nas postagens :D ainda mais em um tema tão atual que é o uso de transgênicos nos algodoais! Achei uma notícia do ano passado bem interessante: " Plantio transgênico não tem sido suficiente para controlar as lagartas - Gastos com inseticidas são até 45% maiores do que na safra passada". Isso me faz perguntar se esse transgênicos está funcionando como deveria... Tema bastante polêmico. Ao todo, 80% da lavoura é de algodão transgênico, o restante, plantas convencionais, que compõem o chamado refúgio: área que ajuda a diminuir as chances de que, com o tempo, surjam pragas resistentes às sementes modificadas geneticamente. Mas adivinhem! Uma das explicações para ter que usar tanto inseticida assim, mesmo com algodão transgênico, é que as lagartas estão ficando mais resistentes! O que está acontecendo é que com o uso das culturas lado a lado, principalmente no cenário de produção de Mato Grosso, as lagartas estão tendo oferta de alimento o ano inteiro, estão sofrendo pressão de seleção a resistência o ano inteiro, em diferentes culturas, o que aumenta a possibilidade delas ficarem cada vez mais resistentes... Então, mais uma vez, é bom vermos todos os estudos sobre essas sementes modificadas: está valendo a pena colocar em risco a biodiversidade dos nossos ecossistemas?
    Aguardando a próxima publicação (:

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  3. Grupo L:
    Adorei o post! É importante ver que essa questão dos transgênicos está mais próxima de nós do que imaginamos... E as pesquisas sobre esse assunto em nosso Estado continuam! Segundo uma reportagem publicada no portal G1 em agosto de 2014, "O agrônomo e pesquisador José Gomes afirmou que estas Espécies modificadas foram desenvolvidas para oferecerem maior flexibilidade no controle das plantas daninhas, permitindo, assim, a aplicação de herbicida nos diferentes estágios de desenvolvimento do algodoeiro sem gerar danos a plantação. Outra característica do algodão geneticamente modificado é que eles têm potencial produtivo médio acima de 4,5 quilos por hectare de algodão em caroço. Esse potencial de produção por hectare, segundo o pesquisador, é variável e o algodão normal consegue produzir apenas quatro quilos por hectare." Segundo a mesma reportagem, a produção no cerrado piauiense tem vantagens se comparado com Mato Grosso, outro grande produtor algodoeiro. A primeira porque lá chove muito e isso dificulta a colheita que dura 200 dias, enquanto no Piauí em apenas 150 dias é possível colher a pluma. Somando-se a isso a alternativa de algodão geneticamente modificado, o algodão tem tudo para crescer novamente. É isso, galera! nosso ouro branco está voltando com tudo! vamos torcer para que os benefícios dessa modificação genética superem os fatos relatados pelo grupo G.
    Aguardo as próximas postagens =) Até mais!

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  4. Grupo D
    Muito interessante a história do algodão!!! Galera, tem uma corrente contraria ao algodão transgênico. É a Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA) e a Via Campesina manifestam-se contrários à liberação dessas sementes geneticamente modificadas tendo em vista às ameaças e os riscos que elas representam para o povo do Semi-Árido. Nesse documento eles concluem que o algodão transgênico, não vai trazer benefícios para as famílias do semiárido e consideram que:
    • No Semi-Árido brasileiro ocorrem espécies nativas, endêmicas, naturalizadas e cultivadas de algodão;
    • Que a abelha africana poliniza a espécie;
    • Que a contaminação por transgênicos é tida como certa com a aprovação para uso comercial de variedades de algodão transgênico;
    • Que pouco se sabe sobre os efeitos ecológicos da eventual hibridação de variedades Bt com variedades nativas ou naturalizadas;
    • Que o algodão ecológico oferece oportunidade para o reerguimento da produção da espécie na região;
    • Que os algodões coloridos surgem como importante alternativa econômica para os agricultores, costureiras e artesãs da região; e
    • Que os mercados voltados para o algodão orgânico e colorido serão prejudicados no caso de contaminação genética
    O povo do semi-árido afirma que a forma mais concreta e eficaz de se proteger a agricultura e a biodiversidade é declarar oficialmente toda região como zona de exclusão do algodão transgênico.
    É importante ler o texto na integra, para compreender a reivindicação da ASA e da Via Campesina. Vou deixar o link aqui. Até a outra postagem!!!
    Referência: http://www.asabrasil.org.br/UserFiles/File/Por%20um%20Semi-%C3%A1rido%20Livre%20de%20Algod%C3%A3o%20Transg%C3%AAnico%20-%20ASA.pdf. Acessado em 26 de abril de 2015.

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  5. GRUPO B
    Boa noite, pessoal! Postagem de grande importância. Entender as alternativas que nos restam para plantar e colher em climas tão extremos como o do sertão nordestino é um passo necessário para o futuro econômico do estado. Entretanto, apesar de inúmeros benefícios citados na postagem, ainda há muito a ser estudado a respeito dos riscos.“Essas plantas precisam ser isoladas de modo diferenciado. Isso porque o gene modificado leva uma característica nova à planta e precisamos entender até que ponto ela pode ser invasiva e causar impactos ecológicos.” (CIÊNCIA HOJE). Fica então a polêmica, usar o algodão transgênico e propiciar o desenvolvimento da região, tanto econômico como social ou pôr o ecossistema em possível perigo? Até a próxima!
    REFERÊNCIA:
    Ciência Hoje. Biotecnolgia contra a seca. Disponível em .Acessado em 26/04/2015

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    1. http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2011/01/biotecnologia-contra-a-seca
      Link da referência

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  6. GRUPO H

    Como já foi dito na própria postagem e nos comentários, interessante abordar essa realidade no estado do Piauí, um estado com muitas riquezas e muitas potencialidades. Sobre o algodão transgênico no Piauí; essa variedade é muito importante, pois serve de alternativa para muitos agricultores. Estas espécies foram desenvolvidas para oferecem maior flexibilidade no controle das plantas daninhas, permitindo, assim, a aplicação de herbicidas em diferentes estágios de desenvolvimento do algodoeiro sem gerar danos a plantação (segundo pesquisa feita pela Embrapa). Segundo a mesma pesquisa, outra característica do algodão geneticamente modificado é que eles têm potencial produtivo médio acima de 4,5 quilos por hectare de algodão em caroço. Esse potencial de produção por hectare, segundo a instituição, é variável e o algodão normal consegue produzi apenas quatro quilos por hectare.
    Será que o Piauí voltará a ser um grande produtor de algodão como no passado? Essas serão cenas dos próximos capítulos que a engenharia genética tá ajudando a construir.

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  7. GRUPO I

    Eis o dilema da agricultura contemporânea, produzir em escala industrial em solos cada vez mais devastados e com culturas propensas a diversas pragas biológicas. Além disso, o mais fundamental, que tais produtos não ofereçam risco a saúde de quem os consomem. No meio de toda essa confusão os transgênicos parecem ser a luz no fim do túnel, já que prometem produtos com alta resistência às diversas pragas agrícolas e aos mais variados tipos de herbicidas, fungicidas, inseticidas e uma produção acima da média. Claro que a retomada da produção de algodão no Piauí tem muitos pontos favoráveis para a economia do estado e para população que se beneficia direta ou indiretamente dessa cultura. Entretanto, o problema é que os produtos transgênicos são relativamente novos no mercado, e, com isso, ainda não se tem um conhecimento confiável de quais são suas consequências para a o meio ambiente e para a saúde humana. No entanto, o que presenciamos é a entrada maciça de transgênicos no mercado, isso faz parecer que só a questão econômica tem importância. Logo, é necessário prosseguir com cautela para que a aquela luz no fim do túnel não seja o trem que vai...

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  8. Grupo M
    Postagem bastante interessante e lúdica, fazendo uma contextualização com o Piauí. Apesar de o algodão transgênico ter “salvado” o cultivo algodoeiro do Piauí, estudos mais recentes mostram as consequências dessa alteração genética. Segundo a Nature Biotechnology, em fevereiro de 2008, foi publicado um estudo mostrando que algumas pragas estão se tornando resistentes ao algodão transgênico inseticida (chamado de algodão Bt). Os transgênicos, de forma geral, Bt são chamados assim porque foram modificados em laboratório para produzir toxinas que são capazes de matar alguns insetos. Originalmente, essas toxinas são produzidas na natureza pela bactéria Bacillus thuringiensis, por isso a abreviação Bt, encontrada no solo. Com a transgenia, as plantas modificadas passam a produzir essas toxinas sozinhas e passam a funcionar como inseticidas. Entretanto, essa modificação genética provocou uma seleção de insetos resistentes à essa toxina, tornando esse mecanismo transgênico ineficaz e, provocando uma maior dificuldade no combate a esses insetos. Aguardando novas postagens!!

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