domingo, 21 de junho de 2015

Por que tantos inimigos?

Transgênicos e guerra de informação

 
Imagem de campanha contra os Transgênicos
Chegamos ao nosso 10° e último post. E, depois de falar de muita bioquímica e repercussão social do uso de transgênicos, hoje vamos encerrar nossas atividades em grande estilo: entrando de vez nessa briga! Transgênicos são do bem? Transgênicos são do mal? No last post do Bioquimicotransgenia resolvemos misturar o bem e o mal e veremos o que dá!


O bem e o mal dos transgênicos
Se você é do Greenpeace, provavelmente não terá dúvidas em responder a questão anterior. As ONGs mundo a fora tem uma posição crítica, fazendo uma apologia a cultura do medo, levando parte da população repugnar alimentos transgênicos, mesmo os consumindo diariamente. Para isso, usam de pseudociência e divulgam trabalhos que não seguem o método científico e que são manipulados a fim de conseguir provar que os transgênicos saíram do beco do inferno e tem a missão de acabar com a natureza. O compromisso com a verdade deve ser a premissa ética daquele que divulga o fato cientifico.
Os benefícios trazidos por organismos geneticamente modificados na produção de medicamentos e enzimas industriais são indiscutíveis. Além disso, a fabricação é controlada e os produtos sujeitos a avaliações de segurança. Entretanto, a presença de transgênicos nas mesas dos consumidores está longe de ser aceita sem restrições. Pelo contrário, várias organizações declaram ser fanaticamente contrárias a esse produto da biotecnologia.
Protesto contra transgênicos
O principal argumento contra os transgênicos defendido por ambientalistas, pequenos agricultores, consumidores e por parte da comunidade científica é o de que eles podem trazer riscos ainda desconhecidos para a saúde e para o meio ambiente. Os motivos para o medo dos OGMs variam de acordo com o grupo social: pequenos agricultores temem ficar dependentes das multinacionais que produzem sementes e herbicidas. Entidades de defesa do consumidor e do cidadão querem alimentos sadios e exigem o direito de saber quais são os produtos elaborados com OGMs. Ambientalistas temem o efeito que eles podem ter sobre os ecossistemas.
Atenção!

A sociedade busca se posicionar sobre o tema amparada em argumentos utilizados por ambos os lados na guerra da informação. A questão é mais complexa do que simplesmente ser contra ou a favor dos transgênicos. A pesquisa científica pode trazer benefícios para a humanidade, desde que não esteja submetida aos interesses meramente comerciais, em detrimento da sociedade. Ou seja, cada OGM deve passar por um novo processo de avaliação de riscos e de impacto ambiental.

Encerramos nossas atividades ressaltando que acreditamos na ciência. Acreditamos que o conhecimento pode mudar o mundo, e mais que isso, pode tornar o mundo um lugar melhor. Acreditamos que os transgênicos são cada vez mais estudados e obtêm avanços através de pesquisas sérias feitas por cientistas qualificados e responsáveis. Para finalizar o Bioquimicatransgenia, agradecemos a todos vocês que leram e comentaram nossas postagens, e nos despedimos de vocês, caros leitores, usando a clássica frase de Sir Paul McCartney: No fim, o amor que você leva é igual ao amor que você dá. 



REFERÊNCIAS

Portal Terra. in http://www.terra.com.br/reporterterra/transgenicos/sociedade.htm
Fapesp http://revistapesquisa.fapesp.br/2008/06/01/walter-colli-e-herton-escobar/




terça-feira, 16 de junho de 2015


Você já comeu sua vacina hoje?

Transgênicos e inovação em saúde




Não, eu não errei o verbo do título. As vacinas foram um dos maiores avanços da medicina, podemos ver o exemplo da épica erradicação da Varíola. Desde quando você nasceu que recebe vacinas pelos programas de prevenção, grande parte desenvolvida no SUS. Popularmente falando, você vai ao posto “tomar” vacina. Comer vacina você nunca foi, certo? Por enquanto. Os transgênicos prometem mudar isso em pouco tempo. Vamos conhecer hoje as vacinas transgênicas. Se você é um ativista do Greenpeace provavelmente deve está pensando: “Meu Deus! Vacinas Transgênicas! Me solta, que preciso ir quebrar alguns laboratórios!” Brincadeirinha pessoal do Greenpeace, nós amamos vocês. Realmente existem muitos movimentos que criticam ferozmente os transgênicos, mas isso é assunto para o próximo post. Voltando ao assunto das vacinas, vamos a um breve histórico.

Charles Arntzen em 2012
No início da década de 1990, Charles Arntzen imaginou uma forma de resolver uma dúzia de problemas da humanidade de uma maneira muito barata e eficaz: criar alimentos geneticamente modificados, capazes de produzir vacinas. Após mais de 20 anos, dentre as principais evoluções estão as vacinas transgênicas e as comestíveis. As vacinas comestíveis possuem diversas vantagens: não precisam ser refrigeradas, não é necessária a utilização de seringas e estas vacinas quando ingeridas encontram-se protegidas do suco gástrico (pelas paredes vegetais), sendo liberadas gradativamente já no intestino delgado. Em 1995, Arntzen conseguiu obter plantas de tabaco que produziam uma proteína antígena para o vírus da hepatite B, testou em ratos e estes se tornaram imune à doença. Em 1998 Hilary Koprowski desenvolveu uma alface geneticamente modificada com um antígeno da hepatite B. Em 2000 William Langridge desenvolveu tomates e batatas com vacinas para as três principais causas da diarreia. Alimentando animais com estas frutas ou tubérculos, conseguiram resultados excelentes: as cobaias tiveram respostas positivas de imunidade da mucosa e sistêmica e não contraíram a doença quando expostas aos agentes patológicos reais. Muitos resultados deixam claro que as vacinas comestíveis são, de fato, eficazes.

Atualmente, já existem vacinas transgênicas sendo usadas em animais. Em abril de 2008 a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou a liberação comercial da primeira vacina veterinária transgênica no Brasil, a Suvaxyn PCZ, que protege suínos contra a circo virose. A doença, comum no Brasil, ataca leitões e causa icterícia, fraqueza e morte dos animais. O Instituto Butantã, que desde 1995 produz em escala industrial uma vacina transgênica contra a Hepatite B. A Embrapa Recursos Genéticos e a Embrapa Gado de Corte também já desenvolvem projetos para a imunização via transgenia contra carrapatos em bovinos. Outra doença que poderá, em breve, ser controlada com a ajuda da biotecnologia é a febre aftosa bovina. O Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Argentina trabalha em pesquisas para a produção de uma vacina transgênica contra a febre aftosa.

As pesquisas seguem a todo vapor, e a contribuição dos transgênicos para vacinas, a saúde pública (citar a insulina como exemplo), agricultura e alimentação, estética, entre outras áreas é cada vez mais real. Sim, devemos sempre nos preocuparmos com consequências negativas e efeitos a longo prazo, mais sem abrir mão dos estudos, técnicas e benefícios, que hoje são reais. E você, já está preparado para comer sua vacina? Afinal, sem riscos não há glória!


Referências
Conselho de Informações sobre Biotecnologia - CIB in http://cib.org.br/em-dia-com-a-ciencia/noticias/vacinas-transgenicas-cada-vez-mais-presentes/
http://inovadefesa.ning.com/forum/topics/vacinas-transgenicas/
http://www.profpc.com.br/Vacinas%20Comest%C3%ADveis/Vacinas_comest%C3%ADveis.htm/
Vacinas Transgênicas: a grande solução ao nosso alcance. in http://www.webartigos.com/artigos/vacinas-transgenicas-a-grande-solucao-futura-ao-nosso-alcance/33287/#ixzz1LocfCoOa/

Mais informações: http://videos.engormix.com/pt/10353/vacinas-transgenicas/p0.htm

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Transgênicos e alergias

As reações alérgicas inesperadas representam um problema em expansão. Parte desse problema deve-se à tendencia maior das pessoas a alimentarem-se fora de casa,  e tal fator tem a possibilidade de ser controlada e evitada. A outra parte  deve-se principalmente à fatores fisiológicos e genéticos, e, até algum tempo atrás, o indivíduo alérgico teria evitar a ingestão do alimento causador da alergia. 


Isso mesmo que eu disse, até algum tempo atrás. Atualmente, existe uma linha de pesquisa e produção da Engenharia Genética que busca a geração de alimentos potencialmente alérgenos sem as principais substâncias causadoras de alergia.

A produção desses alimentos é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde. Como a Engenharia Genética mostrou a oportunidade de realizar esse feito, inúmeros pesquisadores têm tentado reduzir o potencial alérgico de alimentos como o trigo, o amendoim e  o leite. Existe, inclusive, uma variedade de soja - atualmente em  desenvolvimento - que não provoca reações alérgicas. As pesquisas com trigo vem se mostrando bastante promissoras. O caso mais complicado dentre os alimentos citados, é o do amendoim, pois ele possui inúmeras proteínas alérgenas em em grandes quantidades, como por exemplo a cupina e a conglutinina.

Existem grandes discussões que envolvem a existência ou não de riscos sobre os alimentos transgênicos. Caso você seja uma dessas pessoas que desconfia desses alimentos, aí vai uma informação importante: os alimentos transgênicos são submetidos a uma série de testes antes de sua liberação, e envolve testes in vitro e in vivo.
Qualquer resultado positivo define o produto transgênico como alérgeno e leva à interrupção do seu desenvolvimento. Os resultados negativos implicam na realização de testes adicionais realizados com soro de pacientes hipersensibilizados a certos grupos de alérgenos relacionados à fonte original do gene inserido para tornar a planta transgênica. Implica também o teste da resistência da proteína expressa à digestão pela pepsina.
    
Esquema de digestão proteica e absorção dos aa resultantes
Um relatório da União de Academias de Ciências e Humanidades da Alemanha (conduzido com fins exclusivamente científicos) apresentou evidências de que plantas geneticamente modificadas são equivalentes ou até mesmo superiores aos seus correspondentes "naturais"quando avaliados quanto aos aspectos toxigênicos, carcinogênicos e alergênicos, bem como possíveis efeitos adversos resultantes da ingestão de DNA transgênico. 
E aí alguma dúvida? Caso tenha, deixe ela aqui nos comentários para que eu possa esclarecê-la em posts futuros. 
Até a próxima!

REFERÊNCIAS: 
http://formsus.datasus.gov.br/novoimgarq/16061/2420660_218117.pdf
http://www.sbai.org.br/revistas/vol351/vol351-artigos-de-revisao-01.pdf
http://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S1413-81232012000200010&script=sci_arttext

POSTADO POR: Anna Caroline Brandão

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Plantas Produtoras de Fármacos

Após tornar plantas resistentes a doenças e melhorar a qualidade alimentar, a Engenharia Genética agora trata da pesquisa de produtos especiais, como a produção de hormônios e vacinas através de vegetais.

A quarta onda de vegetais geneticamente modificados são representados principalmente pelas Plantas Produtoras de Fármacos (PPF) - ainda não produzidas no Brasil. Essa tecnologia tem sido empregada, em inúmeros países, para desenvolver e produzir vacinas ou produtos farmacêuticos a partir de plantas transgênicas.
Diferentes organismos, como plantas, bactérias e células animais têm sido avaliados quanto ao seu potencial hospedeiro para a produção de proteínas farmacêuticas recombinantes.Os sistemas de plantas têm sido bastante utilizados nas últimas décadas devido à verificação de certas vantagens, como por exemplo baixo custo enquanto crescimento e manutenção e capacidade de gerar proteínas funcionais para os seres humanos. Além disso, as PFF possuem baixo risco de contaminação para animais e humanos.


Existem estimativas que preveem que a necessidade de produção de medicamento excederá a capacidade de produção dos sistemas tradicionais. Diante desse cenário, as plantas surgiram como uma grande oportunidade, já que podem ser utilizadas na produção de mais de cem proteínas recombinantes processadas em diferentes espécies.
O processo de introdução do gene é praticamente o mesmo abordado nos posts passados, portanto, a abordagem detalhada dos mecanismos torna-se desnecessária.

Esquema simplificado de extração de fármaco a partir de PFFs


O assunto é vasto e complexo; pois além de representar um desenvolvimento significativo em biotecnologia e mesmo apresentando diversos benefícios na área econômica, o uso desta nova tecnologia deve ser bem avaliado a fim de que sejam preservadas a saúde e o bem estar dos seres humanos, além do impacto que possa causar ao ambiente.

Até a próxima! 

REFERÊNCIAS: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232011000800033&script=sci_arttext
https://www.ufmg.br/boletim/bol1298/sexta.shtml

Postado por: 
Anna Caroline Brandão

Modelos animais de doenças humanas: cobaias transgênicas

Um número cada vez maior de pesquisadores buscam a utilização de animais com certas características genéticas essenciais para o prosseguimento de seus estudos a fim de descobrir novos medicamentos  ou para garantir ou otimizar a cura de certas doenças. Eles obtêm essas características específicas utilizando processos que envolvem a Engenharia Genética.



Antes de explicar como esses animais transgênicos são produzidos, devemos saber que essa produção no nosso país é relativamente recente. Segundo o Estadão, a produção no Brasil só foi iniciada cerca de 20 anos depois dos Estados Unidos e Europa.
Agora que já sabemos quando isso começou, vamos ao "como", ou seja, vamos entender o processo.
Existem várias formas de origem das cobaias transgênicas. A primeira, chama-se gene "knock-out" e permite, em teoria, inativar qualquer gene, desde que sua sequencia seja conhecida. Há um método denominado cre-loxP pelo qual pode-se inativar um gene de forma específica e no período embrionário. Esse modelo já foi responsável pela produção de inúmeros modelos animais de doenças humanas, como por exemplo a doença de Tay Sachs.

Técnica gene knockout

A segunda técnica consiste na injeção direta de um gene de DNA modificado em um dos pronúcelos (oriundo do gameta masculino ou do gameta feminino). Nesse processo, a integração dos genes se faz de forma aleatória. Às vezes ocorre de a integração do gene não ser homogênea e originar um animal mosaico (que possui algumas células com as características do gene transgênico e outras não). Essa técnica atua na adição de genes e na verificação se essa adição possui efeitos ou não no animal. Foi através dela que obtiveram-se animais sensíveis à poliomielite e à hepatite C.
A terceira técnica consiste na introdução de cadeias inteiras de DNA em células germinativas (células que darão origem aos gametas dos camudongos), essa técnica já originou  modelos animais da Síndrome de Down, por exemplo.


Os modelos animais, por mais úteis e numerosos que sejam, têm seus limites. Entretanto, eles são indispensáveis no estudo das doenças genéticas humanas, pois permitem, por exemplo, o estudo da patologia de uma síndrome ao longo do tempo, no desenvolvimento de terapias gênicas, na descoberta de novos genes que podem ser uma fonte para novos medicamentos.

Por enquanto é só!
Boa noite pessoal :)

REFERÊNCIAS: 
http://ciencia.estadao.com.br/blogs/herton-escobar/uma-fabrica-de-camundongos-transgenicos/
http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252003000300006&script=sci_arttext
http://www.biotecnologia.com.br/revista/bio09/genetica.pdf

Postado por: Anna Caroline Brandão


terça-feira, 12 de maio de 2015

Bactérias do Bem

Já falamos muito de vegetais transgênicos, entramos um pouquinho no mundo dos insetos.... Hoje, o tema girará em torno das bactérias. Há quem pense que bactérias são apenas sinônimo de contaminação e patologias. Contudo, após o post de hoje, tenho certeza que a visão de vocês que pensam dessa maneira mudará radicalmente.


A "bactéria do bem" citadas no título do post é Escherichia coli, localizada normalmente na microbiota normal de seres humanos e outros animais. Encontrou-se um modo de fazer com que essa bactéria produza insulina humana, o que representa a melhora da qualidade de vida e melhor controle das taxas de glicemia de cerca de 12 milhões de diabéticos pelo Brasil afora.


Imagino seu questionamento, caros leitores: mas como uma bactéria é capaz de produzir insulina?
Vetores de clonagem transportam o fragmento do DNA para dentro da E. coli (processo de transformação) e ele se divide várias vezes juntamente com o genoma bacteriano, dando origem a células chamadas transformantes. Então a sequencia de genes transformantes se replica autonomamente na célula hospedeira.


A insulina foi o primeiro produto oriundo da tecnologia do DNA recombinante a ser comercializado mundialmente. A construção da pró-insulina humana foi iniciada a partir da sequencia de aminoácidos dessa proteína.Foi realizado então o teste de sequenciamento de DNA e a confirmação da sequência nucleotídica correta do gene. A célula transformada foi posta em meio adequado para seu crescimento. Essas foram algumas das etapas necessárias para o início da produção da insulina sintética, largamente utilizada por ser  livre de contaminantes ou agentes infecciosos comumente encontrados na substância purificada de animais (método anterior de obtenção antes do surgimento do rDNA).
E aí? Ainda acha que bactérias e vírus são meros causadores de enfermidades?

Referências:

LOPES, Drielle Silva Andrade et al. A produção de insulina artificial através da tecnologia do DNA recombinante para o tratamento de diabetes mellitus doi: http://dx. doi. org/10.5892/ruvrv. 2012.101. 234245. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, v. 10, n. 1, p. 234-245, 2012.

http://www.endocrino.org.br/numeros-do-diabetes-no-brasil/

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Para o Alto e Avante: transgênicos e combate de doenças.

Quase todas as vezes que falamos em transgênicos pensamos em laboratórios de ponta, ativistas e alimentos envenenados, mas pouco se fala da contribuição dos Transgênicos na saúde pública. Nessa semana ocorreu uma pequena mudança nesse cenário: a liberação de mosquitos transgênicos em Piracicaba chamou a atenção da imprensa. A cidade de Piracicaba, São Paulo, enfrenta uma das piores epidemias de Dengue da sua história, e nem as tendas improvisadas nas praças como "hospitais de campanhas" dão conta de atender toda população com sintomas da doença. Parece que estamos perdendo a guerra contra a dengue. Mas calma, ainda temos uma esperança, botem os transgênicos na linha de frente! Para o alto e avante!
O que fazer para resolver o problema da dengue em Piracicaba? Soltar 100.00 Aedes aegypti na cidade. Isso mesmo, você não leu errado! Claro que não é o Aedes selvagem, mas sim um transgênico. O nosso caro leitor deve estar se perguntando por que gastar milhões em pesquisa com insetos transgênicos para combater a Dengue, se ele aprendeu na escola que basta virar as tampinhas no quintal e não deixar a água parada, método indiscutivelmente mais barato e prático. Bem, leitor, a resposta é simples: o método tradicional não tem se mostrado eficiente. É só dá uma olhada nas estatísticas dos mais diversos estados do Brasil para ver que ano após ano as epidemias de Dengue lotam unidades de saúde. Desde de 1920 que esse método é usado. e já que essa é uma "guerra", como as campanhas governamentais gostam de falar, vamos botar uma arma nova, desenvolvida com ciência de ponta, que custa alguns milhões, e que os ambientalistas não gostam muito. Não estou falando da Little e Fat Boy, nem do projeto Manhattan. Estou falando do projeto Oxitec, em Jacobina, na Bahia.

A abordagem genética usada para criar os mosquitos é um sistema conhecido como tetraciclina controlado ativação transcricional (ATT). O gene tTA é emendado no genoma do inseto de tal forma que a proteína produzida por ele aumenta sua atividade - um ciclo de feedback positivo. As células produzem mais e mais proteína tTA - e ao fazer, têm pouca capacidade para fazer qualquer outra proteína. Eventualmente, isso mata os insetos. Quando as larvas de machos são criadas, este processo é desligado, mantendo-os em água contendo o antibiótico tetraciclina, que inibe o processo de feedback. Quando os machos acasalam, no entanto, o gene tTA em sua prole é totalmente ativo.
Na cidade de Jacobina, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a ONG Moscamed, tentam comprovar que a liberação de mosquitos Aedes aegypti geneticamente modificados no meio ambiente reduz drasticamente o tamanho da população de transmissores da doença – diminuindo assim o número de infectados, que neste ano já chega a 1,5 milhão de pessoas, segundo o Ministério da Saúde. Desenvolvido pela empresa britânica Oxitec, que detém a patente,  Em Jacobina, levantamentos mostram que a população de transmissores da dengue em seis meses de experimento já é 50% menor, de acordo com pesquisadora da USP Margareth Capurro, coordenadora do Projeto Aedes Transgênico (PAT).

Agora vamos às críticas. Ecologistas levantam a questão do desequilíbrio ambiental que a introdução de um mosquito transgênico possa causar. Gabriel Fernandez, da CNTbio, questiona ainda que, sem um devido estudo, não se pode assegurar que essas fêmeas – que segundo ele chegam a 3% da produção – não ajudarão a formar uma segunda população, que poderá crescer mais rápido do que a silvestre e se tornar eventualmente "mais agressiva" na transmissão da dengue. Outra possível falha, afirma o membro da CTNBio, seria o não monitoramento de um possível aumento do número de mosquitos Aedes albopictus, diante da supressão do aegypti. O albopictus é vetor para várias doenças tropicais como malária e febre amarela.
Chegou a vez do pessoal da ética. Apesar da euforia, o estudo gerou a desconfiança de cientistas ligados à transgenia., que alegam que a  população de Jacobina está sendo feita de cobaia, são ratinhos de laboratório da Oxitec. Segundo eles, a população não foi devidamente informada sobre o tipo de pesquisa e afirma não haver um código de ética com detalhes sobre os procedimentos em campo, onde 4 milhões de mosquitos transgênicos são liberados no ecossistema toda semana.
Chamem os economistas. Reportagem do jornal britânico The Observer de julho do ano passado, a Oxitec estimou o custo da técnica em menos de £5 libras esterlinas por pessoa por ano. Num cálculo simples, apenas multiplicando o número pela contação atual da moeda britânia frente ao real e desconsiderando as inúmeras outras variáveis dessa conta, o projeto em uma cidade de 150 mil habitantes custaria aproximadamente R$ 3,2 milhões por ano. Se imaginarmos a quantidade de municípios de pequeno e médio porte brasileiros em que a dengue é endêmica, chega-se a pujança do mercado que se abre. Porém, vale lembrar os custos com campanhas educativas, com propagandas que enchem os bolsos dos marqueteiros  e com tendas de guerra improvisadas nas epidemias, além do ônus de trabalhadores pararem pelos sete dias de recuperação. Nos últimos cinco anos, foram 3,2 milhões de casos de dengue registrados no Brasil, com cerca de 800 mortes, todas evitáveis Isso só levando em conta o que foi documentado. Será um investimento válido?
Esse jornal é de 2002. 13 anos depois, as manchetes não tiveram grandes alterações.

A cidade de Piracicaba acha que sim. E lá vão eles, voando pelos céus, com a missão de combater a inimiga número um do Estado brasileiro (a que ponto chegamos!). Será que a liberação de 100.000 mosquitos transgênicos resolverão a epidemia na cidade paulista? Saberemos a resposta em 10 meses. Esse é o teste de fogo dos mosquitinhos trans, se falharem, pode ser o fim dessa esperança da ciência.  Para finalizar, é bom esclarecer que se esse método funcionar, ele não exclui os atuais, mas sim colabora com eles, principalmente durante as epidemias.
 Ironicamente, a nossa arma surpresa nessa guerra é o próprio inimigo geneticamente modificado. A possível solução para Piracicaba é um pássaro? É um avião? Não, são os transgênicos! Para o alto, e avante, Aedes trans!




REFERÊNCIAS


Deutsche Welle (DW), disponível em
http://www.dw.de/pesquisadores-questionam-mosquitos-transg%C3%AAnicos-no-combate-%C3%A0-dengue/a-17256054, acesso em 01 de maio de 2015.

COSTA-DA-SILVA, André L; MACIEL, Ceres; MOREIRA, Luciano A. Mosquitos Transgênicos para controle de doenças tropicais. INTCEM - 2012.

Governo do Rio de Janeiro. Disponível em http://www.saude.rj.gov.br/programas-e-acoes/84-acoes/130-rio-contra-a-dengue-a-historia-da-dengue-no-mundo.html. Acesso em 01 de maio de 2015.

G1 Piracicaba. Disponível em http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2015/04/piracicaba-comeca-liberar-1-milhao-de-aedes-transgenico-por-semana.html, acesso em 01 de maio de 2015.